António Fernandes de Castro

O antigo regedor de Durrães, no concelho de Barcelos. 
Nascido a 06 de Janeiro de 1898 (século XIX), António Fernandes de Castro viveu mais de 40.800 dias, cumprindo todo o século XX e entrando pelo século XXI.
A sua vida foi repartida entre o trabalho do campo, sobretudo no “ramo” das videiras, onde se revelou um negociante exímio, e o desempenho de vários cargos públicos, tendo sido regedor durante 33 anos.
No fundo, era ele quem mandava na freguesia. Podia entrar na casa de qualquer pessoa, mas apenas antes de o sol se pôr. Podia até prender quem infringisse as regras da Nação.
No entanto, como o próprio relata num livro que a Junta de Freguesia editou aquando do seu centenário, era “um regedor bom”, que nunca prendeu ninguém.
Durante dois ou três anos, foi também juiz de paz, com poderes para resolver os pequenos problemas que se passavam no seu território, mas também com autoridade para fazer conciliações em partilhas.
Outro cargo que desempenhou foi o de presidente da Junta, tendo sido no seu tempo que nasceu a primeira escola em Durrães, para evitar que os meninos da freguesia tivessem que “emigrar” para outras terras para tirar a quarta classe.Integrou também a Comissão Fabriqueira de Durrães, ficando ligado ao processo de construção da nova Igreja Paroquial.
António Castro criou 10 filhos, que lhe deram mais de duas dezenas de netos e quase trinta bisnetos, tendo ainda conhecido dois trinetos.
O “senhor regedor”, como era conhecido em Durrães, sempre comeu de tudo, e este poderá ter sido, porventura, um dos grandes segredos da sua longevidade.
Nos últimos tempos, como contou à Lusa a nora que foi durante largos anos a sua ama, “a coisa ficou complicada”, por causa da garganta, “que não deixava passar a comida”.

O antigo regedor de Durrães, no concelho de Barcelos, que era a pessoa mais idosa de Portugal, morreu com 111 anos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BREVES NOTAS SOBRE O CENTENÁRIO REGEDOR

Derivado ao longo período em que desempenhou aquelas funções (Regedoria), o nome do cargo nunca mais o abandonou. Empossado em 30/08/1943, só passados 33 anos, a seu pedido, se desligou da dignificante ocupação.
Quando comemorou o centenário, foi-lhe prestada uma homenagem em que, praticamente, participou toda a freguesia. Nessa altura, em opúsculo editado pela Assembleia de Freguesia, foi destacada toda a sua acção em prol da causa pública. Embora só “herdasse” o nome de “Regedor”, os cargos não se ficaram por aí: Juiz de Paz (1941/1943?); Regedor (1943/1976); Junta de Freguesia (1926/1937 – Secretário e, depois, Presidente), Casa do Povo (desde o l°: Corpo Directivo, 1943, como vogal de Assembleia Geral, passando por vários cargos, em outros tantos actos eleitorais); Corporação Fabriqueira (desde 1957).
Naquele referido Opúsculo que teve por título «ANTÓNIO FERNANDES DE CASTRO – Comemoração de um Centenário de Vida Profícua», com a dedicatória: «Homenagem de Reconhecimento da População de Durrães», ele relata-nos vários episódios em que nos expõe diversas situações por si vividas, que nos dão uma ideia das dificuldades doutrora e, claro, do regozijo que todos eles lhe tinham proporcionado, não esquecendo que, “no intervalo”, teve de conseguir, na agricultura, meios de subsistência para criar os seus dez filhos.
Hoje, com os “sacos azuis” (dizem que os há, dessa cor!), até seria uma forma expedita para criar tão numerosa descendência. Mas, naquele tempo, haverá, hoje, quem o julgue?! Caros leitores, sabem como era? Eu imagino, com base na consulta ao livro de contas da Junta, daquela época. Logo no primeiro ano da sua presidência, conseguiram um subsídio da “avultada” quantia de dois mil escudos «para a obra do caminho que dá ligação do lugar do Apeadeiro ao lugar do Rio, sítio do Ribeiro, para fazer um pontão e uma calçada e cano para esgoto de água que nasce no mesmo caminho». Pelo que recolhi, das memórias de António Castro, na altura do centenário, ainda tiveram de dar (os elementos da Junta) merenda (broa, sardinhas e vinho) ao pessoal que lá trabalhou.
Naquele tempo, estes cargos, além do tempo despendido, ainda davam prejuízo monetário. Do cargo de regedor, recordava: «no tempo da fome havia a Comissão Reguladora e os de Barcelos eram uns estúpidos… uns comedores. Então, um tal Correia … e um Pedro! (…) Estou certo que depois vieram outros, que até se dizia que eram de Lisboa. Esses eram educados. (…) Graças a Deus nunca tirei nada a ninguém, nunca mandei um tostão para Barcelos. Além de ser penoso tirar as coisas às pessoas, (…) era preciso mandar as coisas para lá. Para quê…? Para eles as irem vender? Só quem era burro!». E remata esta sequência de recordações da seguinte maneira: «Toda a minha vida lidei com essas coisas e não tenho remorsos de nada, nada, nada!».
No que toca à Junta de Freguesia, ainda como Secretário, conta o que se passou em determinada altura, relacionado com a construção da escola feminina. O Presidente da Junta (João Marques Maciel), querendo fazer valer o seu ponto de vista, tentou contrariar o engenheiro que a fiscalizava e, à reprovação de determinado pormenor, a certa altura desafiou deste modo: «Pois se não está bem para o senhor, está bem para mim». Foi o suficiente para ir tudo abaixo, como ele diz, e para o mestre Presidente da Junta arcar com a despesa das ditas obras reprovadas pelo engenheiro. Ainda hoje é comum saber-se que ele – Presidente, na altura –, arruinou a sua vida, tendo, inclusive, vendido algumas das suas propriedades para responder a essa obrigação.
Vem este episódio, em termos de comparação, com a responsabilidade que era atribuída aos autarcas e a falta dela, e consequente impunidade, a que assistimos hoje. Tempos em que os políticos ainda eram responsabilizados pelas suas irresponsáveis ações!!!

António Luís Pinheiro